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Marxismo ortodoxo

Finalmente… a segunda inspiração da leitura do livro de Trotsky (a primeira aqui). Ler “Balanço e perspetivas”, o primeiro dos quatro textos editados pela Sundermann sob o título A revolução permanente  foi muito salutar. É uma bela peça de marxismo; muito melhor que “A revolução permanente” que, como disse no primeiro comentário abre o caminho para a escolástica. Erro que, em parte, se deve ao “excesso de confiança” do autor.
Não vejo esta obra como, posteriormente, Trotsky e todos os trotskistas a viram – como uma previsão. Prever, como dizem certos trotskistas citando Marx, não é coisa de marxista. Vejo-o antes como uma análise concreta da realidade russa do momento (1906) que define as tarefas necessárias para fazer uma Revolução no país. Tampouco o vejo como puramente de Trotsky. O próprio indica que essa era, aproximadamente, a visão dos bolcheviques. Mas Lénin só iria sistematizar essa visão bolchevique em Abril de 1917 (famosas Teses de Abril ). Alguns trotskistas afirmam mesmo que Lénin parte da obra de Trotsky para escrever as teses; mas Trotsky desmente – Lénin leu “Balanço e perspetivas” apenas em 1921. A semelhança entre as duas obras prova que ambos pensavam de forma semelhante (acerca das classes; pois discordavam ferozmente acerca da organização do partido). Não, como querem certos trotskistas, que Trotsky foi o teórico por detrás do prático Lénin.
De qualquer modo, merece ser sublinhada a diferença entre o marxismo do inicio do século XX e o marxismo de hoje. Não se tratava de afirmar o que Marx faria se fosse vivo; mas de aplicar o método de Marx para perceber o que o partido deveria fazer. E podia até concluir-se que Marx estava errado nas suas conclusões. Como disse Lukács mais tarde: “ortodoxia é metodologia”.
O pior defeito da obra é a sua melhor qualidade! Poucas coisas que ali se afirmam são verdadeiras hoje. Mas todos eram verdadeiras na época e conduzir a luta de acordo com elas levou os bolcheviques à vitória. (Aproveito para insistir que Trotsky foi talvez o melhor sistematizador do pensamento bolchevique em relação às relações entre classes na Rússia; mas não era o único a pensar assim). Isto devia levar os trotskistas a evitar retirar dali uma ementa para fazer qualquer revolução. Mas infelizmente, porque leem apenas o livro posterior, a “Revolução permanente” de 1929, fazem  o contrário.
Em 1924 Lénin afirmou o seguinte sobre Trotsky “é talvez o homem mais capaz do atual CC, mas peca por excessiva confiança em si próprio”. A excessiva confiança, de facto, o traiu. Trotsky, depois da fabulosa explanação das relações de classe na Rússia, acreditou ter ali a receita para todas as revoluções que se seguiram: Espanha e China. E os trotskistas acreditaram de tal modo nisso que, pese à realidade ter mudado imenso, continua a ver ali a receita para fazer uma revolução. É triste ver como algo que começou tão bem pode ter terminado tão mal.
Mas o que fica é isto: os marxistas devem ler “Balanço e perspetivas” e tentar não atualizar, mas empregar o mesmo método à realidade atual.
Uma alternativa: Em vez de andarmos a procurar decidir quem é mais leninista – Trotsky o Stálin? – ou, da mesma forma, quem é mais marxista – Lénin ou Rosa do Luxemburgo? – ou, ainda, quem é mais democrata – Marx ou Bakunin? – , deviríamos pensar que as suas divergências se resolvem na prática. Somente na prática, dizia Lénin, a teoria pode ser avaliada. Tentar decidir, teoricamente, qual é a teoria mais apropriada é coisa de académicos! Tentar fazer prática sem teoria é coisa de amadores.


Fonte : Fala Ferreira

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