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Dica de leitura para Enem: Maus, a história de um sobrevivente

Hoje temos mais um título interessante para complementar seus estudos para o Enem. O quadrinho Maus – a história de um sobrevivente – escrito por Art Spiegelman e vencedor do prêmio Pulitzer de literatura em 1992 – retrata a história de Vladek Spiegelman, pai de Art, que foi enviado ao campo de concentração de Auschwitz por ser judeu. Nesta HQ há a utilização de um recurso estilístico curioso: os nazistas são apresentados como gatos, enquanto os judeus poloneses são ratos, poloneses são porcos e, por fim, americanos, cachorros. Essa antropomorfização pode ser encarada como tentativa de estabelecer um comparativo entre cada animal e o papel de cada nacionalidade para com a perseguição aos judeus na Segunda Guerra Mundial. Desta forma, os judeus são representados como o animal mais frágil, dando nome à obra (maus, em alemão, significa rato). Devemos salientar que esta escolha do autor não foi impensada: representar os judeus por ratos foi uma forma de retomar uma artimanha nazista de propaganda: a de comparar o povo de Israel com animais que transmitiam doenças, povoam continentes e findam seus recursos.

Fonte: Maus – a história de um sobrevivente, editora Brasiliense, 1987.
Fonte: Maus – a história de um sobrevivente, editora Brasiliense, 1987.

O quadrinho não apresenta estrutura narrativa linear, recorrendo a diversas mudanças do foco narrativo para compor a história: por vezes somos colodos no presente e presenciamos o autor falar da vida de seu pai já na velhice; em outros momentos, acompanhamos a trajetória de Vladek em sua juventude durante a época do nazismo. Desta forma, o livro, apesar da sensibilidade do tema, possui tons de ironia e reflexão, os quais ocorrem quando o autor retrata sua convivência com o pai e o rumo da vida deste após o término do conflito e fuga para os Estados Unidos.
Apesar de ser por vezes classificado como uma biografia de Vladek Spiegelman, Maus, em uma análise mais profunda, revela uma complexa correlação entre os eventos traumáticos do passado de Vladek e suas consequências para seu filho, o qual foi criado sob o peso de ser filho de sobreviventes do Holocausto.
Após ler esta obra, recomendamos a leitura do excelente artigo de Fabiano Andrade (clique aqui para acessá-lo), o qual aprofunda as reflexões possíveis sobre Maus e apresenta comparações e conceitos literários que podem ser interessantes para qualquer vestibulando.


Fonte : InfoEnem

Émile Durkheim, o criador da sociologia da educação

Para o sociólogo francês, a principal função do professor é formar cidadãos capazes de contribuir para a harmonia social


 Émile Durkheim. Foto: Bettmann/Corbis
Émile Durkheim
Em cada aluno há dois seres inseparáveis, porém distintos. Um deles seria o que o sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917) chamou de individual. Tal porção do sujeito - o jovem bruto -, segundo ele, é formada pelos estados mentais de cada pessoa. O desenvolvimento dessa metade do homem foi a principal função da educação até o século 19. Principalmente por meio da psicologia, entendida então como a ciência do indivíduo, os professores tentavam construir nos estudantes os valores e a moral. A caracterização do segundo ser foi o que deu projeção a Durkheim. "Ele ampliou o foco conhecido até então, considerando e estimulando também o que concebeu como o outro lado dos alunos, algo formado por um sistema de idéias que exprimem, dentro das pessoas, a sociedade de que fazem parte", explica Dermeval Saviani, professor emérito da Universidade Estadual de Campinas. 



Dessa forma, Durkheim acreditava que a sociedade seria mais beneficiada pelo processo educativo. Para ele, "a educação é uma socialização da jovem geração pela geração adulta". E quanto mais eficiente for o processo, melhor será o desenvolvimento da comunidade em que a escola esteja inserida

Nessa concepção durkheimiana - também chamada de funcionalista -, as consciências individuais são formadas pela sociedade. Ela é oposta ao idealismo, de acordo com o qual a sociedade é moldada pelo "espírito" ou pela consciência humana. "A construção do ser social, feita em boa parte pela educação, é a assimilação pelo indivíduo de uma série de normas e princípios - sejam morais, religiosos, éticos ou de comportamento - que baliza a conduta do indivíduo num grupo. O homem, mais do que formador da sociedade, é um produto dela", escreveu Durkheim. 

Essa teoria, além de caracterizar a educação como um bem social, a relacionou pela primeira vez às normas sociais e à cultura local, diminuindo o valor que as capacidades individuais têm na constituição de um desenvolvimento coletivo. "Todo o passado da humanidade contribuiu para fazer o conjunto de máximas que dirigem os diferentes modelos de educação, cada uma com as características que lhe são próprias. As sociedades cristãs da Idade Média, por exemplo, não teriam sobrevivido se tivessem dado ao pensamento racional o lugar que lhe é dado atualmente", exemplificou o pensador.

Ensino público e laico

Durkheim não desenvolveu métodos pedagógicos, mas suas idéias ajudaram a compreender o significado social do trabalho do professor, tirando a educação escolar da perspectiva individualista, sempre limitada pelo psicologismo idealista - influenciado pelas escolas filosóficas alemãs de Kant (1724-1804) e Hegel (1770-1831). "Segundo Durkheim, o papel da ação educativa é formar um cidadão que tomará parte do espaço público, não somente o desenvolvimento individual do aluno", explica José Sérgio Fonseca de Carvalho, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).

Nas palavras de Durkheim, "a educação tem por objetivo suscitar e desenvolver na criança estados físicos e morais que são requeridos pela sociedade política no seu conjunto". Tais exigências, com forte influência no processo de ensino, estão relacionadas à religião, às normas e sanções, à ação política, ao grau de desenvolvimento das ciências e até mesmo ao estado de progresso da indústria local. 

Se a educação for desligada das causas históricas, ela se tornará apenas exercício da vontade e do desenvolvimento individual, o que para ele era incompreensível: "Como é que o indivíduo pode pretender reconstruir, por meio do único esforço da sua reflexão privada, o que não é obra do pensamento individual?" E ele mesmo respondeu: "O indivíduo só poderá agir na medida em que aprender a conhecer o contexto em que está inserido, a saber quais são suas origens e as condições de que depende. E não poderá sabê-lo sem ir à escola, começando por observar a matéria bruta que está lá representada". Por tudo isso, Durkheim é também considerado um dos mentores dos ideais republicanos de uma educação pública, monopolizada pelo Estado e laica, liberta da influência do clero romano.
Autoridade do professor

Durkheim sugeria que a ação educativa funcionasse de forma normativa. A criança estaria pronta para assimilar conhecimentos - e o professor bem preparado, dominando as circunstâncias. "A criança deve exercitar-se a reconhecer [a autoridade] na palavra do educador e a submeter-se ao seu ascendente; é por meio dessa condição que saberá, mais tarde, encontrá-la na sua consciência e aí se conformar a ela", propôs ele. "Em Durkheim, a autonomia da vontade só existe como obediência consentida", diz Heloísa Fernandes, da Faculdade de Ciências Sociais da USP. O sociólogo francês foi criticado por Jean Piaget (1896-1980) e Pierre Bourdieu (1930-2002), defensores da idéia de que a criança determina seus juízos e relações apenas com estímulos de seus educadores, sem que estes exerçam, necessariamente, força autoritária sobre ela.

Durkheim e a educação: padrão social
Sala de aula na França: adultos como responsáveis pela socialização dos jovens. Foto:  Bert Hardy/Getty Images
Sala de aula na França: adultos como responsáveis pela socialização dos jovens.
A elaboração, adoção e socialização dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs)foi uma grande conquista para a educação brasileira. Houve padronização na indicação dos conteúdos curriculares e uma clara demonstração do que o governo espera dos jovens que deixarão os bancos escolares nos próximos anos. Para o professor Dermeval Saviani, da Unicamp, esse fato tem certa relação com as concepções de Durkheim. "Os currículos são sugeridos para todos. Esses documentos mostram as necessidades da sociedade. Agora, cabe aos estabelecimentos de ensino pegar essas indicações e moldá-las aos estudantes", explica. "A idéia de fundo é colocar as pessoas certas nos lugares certos, onde a comunidade precisa", diz.

Biografia

Émile Durkheim nasceu em 1858, em Épinal, no noroeste da França, próximo à fronteira com a Alemanha. Era filho de judeus e optou por não seguir o caminho do rabinato, como era costume na sua família. Mais tarde declarou-se agnóstico. Depois de formar-se, lecionou pedagogia e ciências sociais na Faculdade de Letras de Bordeaux, de 1887 a 1902. A cátedra de ciências sociais foi a primeira em uma universidade francesa e foi concedida justamente àquele que criaria a Escola Sociológica Francesa. Seus alunos eram, sobretudo, professores do ensino primário. Durkheim não repartiu o seu tempo nem o pensamento entre duas atividades distintas por mero acaso.
Abordou a educação como um fato social. "Estou convicto de que não há método mais apropriado para pôr em evidência a verdadeira natureza da educação", declarou. A partir de 1902, foi auxiliar de Ferdinand Buisson na cadeira de ciência da educação na Sorbonne e o sucedeu em 1906. Estava plenamente preparado para o posto, pois não parara de dedicar-se aos problemas do ensino. Dentro da educação moral, psicologia da criança ou história das doutrinas pedagógicas, não há campos que ele não tenha explorado. Suas obras mais famosas são A Divisão do Trabalho Social e O Suicídio. Morreu em 1917, supostamente pela tristeza de ter perdido o filho na Primeira Guerra Mundial, no ano anterior.

Tempo de mudanças 

A segunda metade do século 19 marca o nascimento de algumas ciências humanas, como antropologia, sociologia, psicanálise e lingüística. Charles Darwin (1809-1882), Karl Marx (1818-1883) e Sigmund Freud (1856-1939), para citar apenas alguns clássicos, estavam formulando as idéias que reorientariam o pensamento mundial mais tarde, assim como fez Durkheim no campo da sociologia. A França vivia um período de conflitos - parte da região da Lorena, onde Durkheim nasceu, foi tomada pela Alemanha em 1871, o que levou à guerra entre os dois países. Nesse mesmo ano, foi proclamada a Terceira República Francesa, que implantou medidas políticas inovadoras, como a instituição da lei do divórcio. Na educação, devido também à influência das concepções de Durkheim, a Terceira República trouxe a obrigatoriedade escolar para crianças de 6 a 13 anos e a proibição do ensino religioso nas escolas públicas, ideais que até hoje estão entre os pilares educacionais naquele país. Tais transformações foram fundamentais para a preocupação de Durkheim com a formação de professores para a nova escola laica republicana. Ele viveu também no período da chamada Segunda Revolução Industrial, quando o motor de combustão interna, o dínamo, a eletricidade, o telégrafo e o petróleo tomaram a atenção do mundo todo. Morreu durante a Primeira Guerra Mundial, no ano da Revolução Russa.
Para pensar

Durkheim dizia que a criança, ao nascer, trazia consigo só a sua natureza de indivíduo. "A sociedade encontra-se, a cada nova geração, na presença de uma tábua rasa sobre a qual é necessário construir novamente", escreveu. Os professores, como parte responsável pelo desenvolvimento dos indivíduos, têm um papel determinante e delicado. Devem transmitir os conhecimentos adquiridos, com cuidado para não tirar a autonomia de pensamento dos jovens. A proposta de Durkheim levará o aluno a avançar sozinho? Esse modelo de formação externa contraria a independência nos estudos? Ou será uma condição para que a educação cumpra seu papel social e político? 


Fonte : Gente que educa

Novos modelos de sala de aula

A sala de aula tradicional é asfixiante para todos, principalmente para os mais novos. Está trazendo pressões insuportáveis para todos: Crianças e jovens insatisfeitos, professores estressados e doentes, porque há questões mais profundas que exigem novos projetos pedagógicos. Insistimos num modelo ultrapassado, centralizador, autoritário com professores mal pagos e mal preparados para ensinar um conjunto de assuntos, que os destinatários – os alunos – não valorizam. Se não mudarmos o rumo rapidamente, caminhamos para tornar a escola pouco interessante, relevante, só certificadora.

Não basta aumentar o número de horas na escola (período integral) se mantivermos uma estrutura fragmentada de ensinar cada assunto, matéria, área de conhecimento. Quando insistimos em melhorar os processos sem mudar o modelo convencional, ele não nos serve para um mundo que exige pessoas muito mais competentes em lidar com a mudança, com a complexidade, com a convivência em projetos diferentes e com pessoas de culturas e formações diferentes. A escola padronizada, que ensina e avalia a todos de forma igual e exige resultados previsíveis, ignora que a sociedade do conhecimento é baseada em competências cognitivas, pessoais e sociais, que não se adquirem da forma convencional e que exigem proatividade, colaboração, personalização e visão empreendedora.

A sala de aula se amplia, dilui, mistura com muitas outras salas e espaços físicos, digitais e virtuais, tornando possível que o mundo seja uma sala de aula, que qualquer lugar seja um lugar de ensinar e de aprender, que em qualquer tempo possamos aprender e ensinar, que todos possam ser aprendizes e mestres, simultaneamente, dependendo da situação, que cada um possa desenvolver seu ambiente pessoal de aprendizagem (PLE) compartilhando-o com outros e neste compartilhamento, enriquecendo-se mutuamente.

Este novo cenário pressiona o conceito de sala de aula tradicional. Não é necessário ir sempre a um mesmo lugar para aprender, não precisamos estar sempre com um especialista para aprender, e mesmo quando estamos num espaço convencional como a sala de aula, podemos modificar o que acontece nela: a utilização do espaço de diversas formas, a diversificação de atividades (individuais, grupais e coletivas), as analógicas e as digitais, as de profunda interação física e as de profunda interação virtual.

É impossível hoje falar das diferentes salas de aula porque o que está mudando é o mundo, o acesso e compartilhamento de informações e construção individual e coletiva do conhecimento. Se mudamos como aprendemos a sala de aula, esta nunca será mais a mesma (mesmo quando não muda de lugar).
Modelos de sala de aula dependem do modelo pedagógico escolhido: Modelos mais convencionais e mais inovadores, mais centrados no professor ou no aluno, com pouca tecnologia ou com mais tecnologia. Há novos modelos que fazem mudanças progressivas, chamadas incrementais e há modelos mais disruptivos.

Em educação – em um período de tantas mudanças e incertezas - não devemos ser xiitas e defender um único modelo, proposta, caminho. Trabalhar com modelos flexíveis com desafios, com projetos reais, com jogos e com informação contextualizada, equilibrando colaboração com a personalização é o caminho mais significativo hoje, mas pode ser planejado e desenvolvido de várias formas e em contextos diferentes. Podemos ensinar por problemas e projetos num modelo disciplinar e em modelos sem disciplinas; com modelos mais abertos - de construção mais participativa e processual - e com modelos mais roteirizados, preparados previamente, mas executados com flexibilidade e forte ênfase no acompanhamento do ritmo de cada aluno e do seu envolvimento também em atividades em grupo.

Salas de aula em modelos educacionais mais inovadores

As escolas que nos mostram novos caminhos estão mudando o modelo disciplinar por modelos mais centrados em aprender ativamente com problemas, desafios relevantes, jogos, atividades e leituras, combinando tempos individuais e tempos coletivos; projetos pessoais e projetos de grupo. Isso exige uma mudança de configuração do currículo, da participação dos professores, da organização das atividades didáticas, da organização dos espaços e tempos.

Um dos muitos modelos interessantes para pensar como organizar a “sala de aula” de forma diferente é olhar para algumas escolas inovadoras. Por exemplo os projetos das escolas Summit (Summit Schools) da California equilibram tempos de atividades individuais, com as de grupo; sob a supervisão de dois professores, de áreas diferentes (humanas e exatas) que se preocupam com projetos que permitam olhares abrangentes, integradores, sem disciplinas. Acompanham o progresso de cada aluno (toda sexta feira conversam individualmente com cada aluno). Os alunos fazem avaliações quando se sentem preparados.



O ambiente físico das salas de aula e da escola como um todo também precisa ser redesenhado dentro desta nova concepção mais ativa, mais centrada no aluno. As salas de aula podem ser mais multifuncionais, que combinem facilmente atividades de grupo, de plenário e individuais. Os ambientes precisam estar conectados em redes sem fio, para uso de tecnologias móveis, o que implica em ter uma banda larga que suporte conexões simultâneas necessárias.
As escolas como um todo precisam repensar esses espaços tão quadrados para espaços mais abertos, onde lazer e estudo estejam mais integrados. O que impressiona nas escolas com desenhos arquitetônicos e pedagógicos mais avançados é que os espaços são mais amplos, agradáveis. Há escolas mais em contato com a natureza, que tem vantagens inegáveis para projetos de ecologia de aprendizagem mais integral, mas também há projetos urbanos muito estimulantes como os do Projeto Gente da Secretaria Municipal do Rio de Janeiro, em que os alunos estão em grupos e os professores circulam entre eles como orientadores.

Também no Rio e Recife temos as escolas públicas do projeto NAVE - o Colégio Estadual Leite Lopes, no Rio, participa do Projeto Nave – Núcleo Avançado de Educação – que utiliza as tecnologias para capacitar alunos do ensino médio para profissões no campo digital. São espaços grandes, com pátios onde lazer e pesquisa se misturam.
Os impactos positivos do programa vêm sendo colhidos também nas avaliações realizadas pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Nos resultados divulgados nas duas últimas edições do exame, o Colégio Estadual José Leite Lopes foi o 1º lugar das escolas ligadas à Secretaria de Estado de Educação (SEEDUC-RJ), resultado também alcançado pela Escola Técnica Estadual Cícero Dias, 1ª colocada entre as escolas de Pernambuco vinculadas à Secretaria Estadual de Educação de Pernambuco (SEEP).
Outro conjunto de escolas interessantes são as escolas públicas High Tech High que lembram laboratórios multiuso, onde os alunos vão da ideia à realização e apresentação dos seus projetos, com apoio de ferramentas físicas e digitais, entre elas as impressoras 3-D.

Mesmo escolas sem tantas tecnologias, quando têm projetos pedagógicos mais avançados, modificam o conceito de sala e de espaço. Uma escola municipal como a Amorim Lima de São Paulo, criam salas maiores para que alunos de vários anos possam participar em grupos.

Salas de aula em modelos educacionais disciplinares
Podemos fazer mudanças progressivas na direção da personalização, colaboração e autonomia ou mais intensas ou disruptivas. Só não podemos manter o modelo tradicional e achar que com poucos ajustes dará certo. Os ajustes necessários – mesmo progressivos - são profundos, porque são do foco: aluno ativo e não passivo, envolvimento profundo e não burocrático, professor orientador e não transmissor.

No modelo disciplinar, precisamos “dar menos aulas” e colocar o conteúdo fundamental na WEB, elaborar alguns roteiros de aula em que os alunos leiam antes os materiais básicos e realizem atividades mais ricas em sala de aula com a supervisão dos professores. Misturando vídeos e materiais nos ambientes virtuais com atividades de aprofundamento nos espaços físicos (salas) ampliamos o conceito de sala de aula: Invertemos a lógica tradicional de que o professor ensine antes na aula e o aluno tente aplicar depois em casa o que aprendeu em aula, para que, primeiro, o aluno caminhe sozinho (vídeos, leituras, atividades) e depois em sala de aula desenvolva os conhecimentos que ainda precisa no contato com colegas e com a orientação do professor ou professores mais experientes.

Professores na sua disciplina podem organizar com os alunos no mínimo um projeto importante na sua disciplina, que integre os principais assuntos da matéria e que utilize pesquisa, entrevistas, narrativas, jogos como parte importante do processo. É importante que os projetos estejam ligados à vida dos alunos, às suas motivações profundas, que o professor saiba gerenciar essas atividades, envolvendo-os, negociando com eles as melhores formas de realizar o projeto, valorizando cada etapa e principalmente a apresentação e a publicação em um lugar virtual visível do ambiente virtual para além do grupo e da classe.

Um dos modelos mais interessantes de ensinar hoje é o de concentrar no ambiente virtual o que é informação básica e deixar para a sala de aula as atividades mais criativas e supervisionadas.  É o que se chama de aula invertida. A combinação de aprendizagem por desafios, problemas reais, jogos, com a aula invertida é muito importante para que os alunos aprendam fazendo, aprendam juntos e aprendam, também, no seu próprio ritmo. Os jogos e as aulas roteirizadas com a linguagem de jogos cada vez estão mais presentes no cotidiano escolar. Para gerações acostumadas a jogar, a de desafios, recompensas, de competição e cooperação é atraente e fácil de perceber.

Muitas escolas e professores preferem neste momento manter os modelos de aulas prontas, com roteiros definidos previamente. Dependendo da qualidade desses materiais, das atividades de pesquisa e projetos planejados e da forma de implementá-los (adaptando-os à realidade local e com intensa participação dos alunos) podem ser úteis, se não são executados mecanicamente. Um bom professor pode enriquecer materiais prontos com metodologias ativas: pesquisa, aula invertida, integração sala de aula e atividades online, projetos integradores e jogos. De qualquer forma esses modelos precisam também evoluir para incorporar propostas mais centradas no aluno, na colaboração e personalização.

Todas as escolas podem implementar o ensino híbrido, misturado, tanto as que  possuem uma infraestrutura tecnológica sofisticada como as mais carentes. Todos os professores, também. Em escolas com menos recursos, podemos desenvolver projetos significativos e relevantes para os alunos, ligados à comunidade, utilizando tecnologias simples como o celular, por exemplo, e buscando o apoio de espaços mais conectados na cidade.  Embora ter boa infraestrutura e recursos traz muitas possibilidades de integrar presencial e online, conheço muitos professores que conseguem realizar atividades estimulantes, em ambientes tecnológicos mínimos.

As escolas mais conectadas podem fazer uma integração maior entre a sala de aula, os espaços da escola e do bairro e os espaços virtuais de aprendizagem. Podem disponibilizar as informações básicas de cada assunto, atividade ou projeto num ambiente virtual (Moodle, Desire2Learn, Edmodo e outros) e fazer atividades com alguns tablets, celulares ou ultrabooks dentro e fora da sala de aula, desenvolvendo narrativas “expansivas”, que se conectam com a vida no entorno, com outros grupos, com seus interesses profundos.

Podem inverter o modelo tradicional de aula, com os alunos acessando os vídeos e materiais básicos antes, estudando-os, dando feedback para os professores (com enquetes, pequenas avaliações rápidas, corrigidas automaticamente). Com os resultados, os professores planejam quais são os pontos mais importantes para trabalhar com todos ou só com alguns; que atividades podem ser feitas em grupo, em ritmos diferentes e as que podem ser feitas individualmente.

As tecnologias permitem o registro, a visibilização do processo de aprendizagem de cada um e de todos os envolvidos. Mapeiam os progressos, apontam as dificuldades, podem prever alguns caminhos para os que têm dificuldades específicas (plataformas adaptativas).  Elas facilitam como nunca antes múltiplas formas de comunicação horizontal, em redes, em grupos, individualizada. É fácil o compartilhamento, a coautoria, a publicação, produzir e divulgar narrativas diferentes. A combinação dos ambientes mais formais com os informais (redes sociais, wikis, blogs), feita de forma inteligente e integrada, nos permite conciliar a necessária organização dos processos com a flexibilidade de poder adaptá-los à cada aluno e grupo.

Conclusão
Os processos de organizar o currículo, as metodologias, os tempos e os espaços precisam ser revistos. Isso é complexo, necessário e um pouco assustador, porque não temos modelos prévios bem sucedidos para aprender de forma flexível numa sociedade altamente conectada.
É possível manter a “sala de aula” se o projeto educativo é inovador,- currículo, gestão competente,  metodologias ativas, ambientes físicos e digitais atraentes - se  a escola tem professores muito bem preparados para saber orientar alunos e onde estes se sentem protagonistas de uma aprendizagem rica e estimulante. Sabemos que no Brasil temos inúmeras deficiências históricas, estruturais, mas os desafios são muito maiores porque insistimos em atualizar-nos dentro de modelos previsíveis, industriais, em caixinhas. Poderemos ter melhores resultados, sem dúvida, e mesmo assim não estarmos preparados para este mundo que está exigindo pessoas e profissionais capazes de enfrentar escolhas complexas, situações diferentes, capazes de empreender, criar e conviver em cenários em rápida transformação.

Todos os processos de organizar o currículo, as metodologias, os tempos, os espaços precisam ser revistos e isso é complexo, necessário e um pouco assustador, porque não temos modelos prévios bem sucedidos para aprender. Estamos sendo pressionados para mudar sem muito tempo para testar. Por isso é importante que cada escola defina um plano estratégico de como fará estas mudanças. Pode ser de forma mais pontual inicialmente, apoiando professores, gestores e alunos –  alunos também e alguns pais – que estão mais motivados e tem experiências em integrar o presencial e o virtual. Podemos aprender com os que estão mais avançados e compartilhar esses projetos, atividades, soluções. Depois precisamos pensar mais estruturalmente para mudanças em um ano ou dois. Capacitar coordenadores, professores e alunos para trabalhar mais com metodologias ativas, com currículos mais flexíveis, com inversão de processos (primeiro atividades online e depois, atividades em sala de aula). Podemos realizar mudanças incrementais, aos poucos ou, quando possível, mudanças mais profundas, disruptivas, que quebrem os modelos estabelecidos. Ainda estamos avançando muito pouco em relação ao que precisamos.
Para saber mais:

MASSETO, Marcos. Competência pedagógica do professor universitário. 2ª Ed. São Paulo: Summus, 2012 e Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica (com Behrens e Moran). 21ª ed Campinas: Papirus, 2013.
MORAN, José Manuel. A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá. 5ª Ed. Campinas: Papirus, 2012
________________. Educação Humanista Inovadora. www2.eca.usp.br/moran

Silicon Schools. O ato de ensinar em um ambiente de ensino híbrido - repensando o papel do professor. Disponível em https://pt.khanacademy.org/partner-content/ssf-cci/sscc-teaching-blended-learning



Um Novo Modelo de Educação

A FGV/EESP desenvolveu um modelo inovador de educação, criando um 'ambiente de aprendizagem” em que o ensino tradicional (transmissão oral/verbal) é complementado por um conjunto de atividades voltadas para a prática, experimentação e incorporação permanente de conhecimento como parte de sua capacidade e habilidade mental.
Assim, o papel da Escola ultrapassa o de uma entidade de ensino tradicional. O aluno não é apenas um cliente que assiste aulas e lê textos obrigatórios para obter o diploma de um curso. Ao contrário, a Escola é um ambiente de aprendizagem e de formação do jovem, onde o objetivo das aulas é o desenvolvimento pessoal do aluno através da incorporação do conhecimento e principalmente da capacidade de utilizar este conhecimento.
O aluno é um elemento ativo num processo que envolve aprendizagem, experimentação e práticas, a fim de reinventar o conhecimento. Isto significa que, além das aulas, em que o aluno retém uma parcela pequena do conhecimento, ele também irá participar de um conjunto de atividades cujo foco é a aprendizagem, a experimentação.
Este processo se baseia em atividades realizadas em laboratórios, incentivando a pesquisa, o debate e a resolução de exercícios, problemas e casos reais. O aluno irá enfrentar situações em que desenvolverá o raciocínio lógico e crítico, aprimorando sua capacidade de aprendizagem.
Assim, para formar um profissional com excelência, não basta a garantia do perfeito domínio da competência técnica, mas é fundamental dar ao aluno uma formação calcada no compromisso nacional, no exercício da liderança, na ética e na orientação humanista.


Fonte : EESP - FGV

Currículo nacional é o primeiro passo para educação avançar

Com atraso de duas décadas, MEC começa a elaborar programa que vai definir quais conteúdos devem ser ensinados nas escolas — e em que séries


Sala de aula
Documento que vai determinar o que e quando os estudantes brasileiros devem aprender ficará pronto em 2016, de acordo com o MEC(Joel Silva/Folhapress/VEJA)
Base Nacional Comum
O que diz a legislação?
Tanto a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica, de 1996, quanto o Plano Nacional de Educação, de 2014, determinam que o governo federal estabeleça os conteúdos a serem ensinados na educação básica. A legislação abrange escolas públicas e privadas
Como funciona hoje?
Estados e municípios são responsáveis pela elaboração do currículo que será usado nas escolas públicas. Na rede privada, cada escola determina as expectativas de aprendizagem com base em livros didáticos e material apostilado
Qual a proposta do governo?
A partir de 2016, todas as escolas do país, públicas e privadas, deverão seguir uma base comum, com especificação do que deve ser ensinado em cada etapa da educação. Segundo o MEC, caberá às escolas escolherem a linha pedagógica e a metodologia de ensino
Por que isso é importante?
O currículo comum é uma tentativa de garantir que todos os alunos tenham as mesmas oportunidades de aprendizagem
O Brasil ainda não possui um currículo escolar unificado, que determine o que e em que momento os conteúdos devem ser ensinados a estudantes do ensino básico. Isso talvez não fosse uma questão tão sensível se esses mesmos alunos não fossem periodicamente submetidos a avaliações (elas, sim, nacionais) que cobram os conhecimentos supostamente transmitidos. É o caso da Prova Brasil, que mede o aprendizado de estudantes do ciclo fundamental e do Enem, que além de avaliar o que sabem os concluintes do nível médio serve como critério seletivo para universidades públicas e privadas, cursos técnicos e até para programas de bolsas e financiamento estudantil.
Com o atraso habitual, a elaboração de um currículo unificado, enfim, entrou na pauta. Até o fim do mês, o Ministério da Educação abre a discussão sobre a criação da chamada Base Nacional Comum, documento que vai determinar quais conteúdos das disciplinas obrigatórias - como matemática, língua portuguesa, história, geografia e ciências - devem ser apresentados aos estudantes. E em que série. O MEC tem até 2016 para finalizar e apresentar a proposta pública. "É o primeiro grande passo para garantir que o Brasil ofereça a mesma oportunidade a todos os seus estudantes", diz David Plank, professor de políticas educacionais da Universidade Stanford, que visitou o Brasil na semana passada para debater o assunto com especialistas locais em evento promovido pela Fundação Lemann.
Hoje, Estados e municípios são responsáveis pela elaboração do currículo usado nas escolas públicas. Na rede privada, cabe a cada instituição determinar as expectativas de aprendizagem dos alunos. Há, portanto, milhares de currículos espalhados pelo país. De modo geral, esses programas de estudo se apoiam em livros didáticos e material apostilado, e nada garante que uma escola de Alagoas, por exemplo, ensine equações de segundo grau na mesma série que uma unidade de São Paulo.
"Sem saber o que os alunos devem aprender, é difícil medir se o ensino está melhorando ou não", diz Plank. O contrário também é verdadeiro. Se todos souberem o que as crianças e jovens devem aprender, será mais fácil estabelecer metas, medir resultados e cobrar mudanças. O currículo poderá ser usado, por exemplo, para a elaboração de material didático e para a formação de professores. Pode ainda facilitar o acompanhamento do ensino pelos pais, que terão mais clareza sobre o que seus filhos aprendem - ou deveriam aprender. "Que pai ou mãe nunca se questionou se o filho já não deveria saber um determinado conteúdo? Sem uma resolução clara sobre o que a escola deve ensinar, não há como dar uma resposta às famílias."
O currículo já é uma ferramenta consagrada em outros países. "A base curricular existe em todas as nações que conseguiram bom resultados na educação. A legislação brasileira, contudo, ainda não detalha o que deve ser ensinado, ainda que essa seja uma cobrança dos educadores desde 1996", diz Paula Louzano, professora da Universidade de São Paulo e doutora pela Universidade Harvard. Paula analisou o currículo de países como Finlândia, Portugal, Austrália, Estados Unidos e Cuba para saber como o processo de implantação funcionou em cada um deles. "A seu modo, todas essas nações conseguiram driblar as diferenças na oferta de ensino estabelecendo padrões mínimos de qualidade que permitiram aos pais e professores conferir se os estudantes avançavam no ritmo esperado."
O atraso de quase 20 anos na definição de um currículo foi causado, na opinião de Paula, por debates ideológicos que permeiam o tema. "O governo sempre teve medo de determinar regras específicas para a educação, com o receio de soar autoritário e de comprar briga com professores", diz. A consequência disso é que os documentos existentes hoje, como os Parâmetros Curriculares Nacionais, são pouco detalhados e não servem de base para saber o que as escolas brasileiras deveriam ensinar.
Nos Estados Unidos, os padrões de aprendizagem, chamados Common Core, começaram a ser definidos na década passada. De lá para cá, 47 Estados adotaram o currículo. "Assim como deverá acontecer no Brasil, houve por lá uma grande oposição aos padrões de aprendizagem", diz Plank, que acompanhou a implementação do Common Core na Califórnia. "Muitos professores viram o currículo como uma medida impositiva do governo. Isso acontece, em geral, por desconhecimento da importância desses padrões para a melhoria da qualidade da educação", diz. No ano que vem, os padrões de aprendizagem serão adotados inclusive pelas avaliações nacionais, como o SAT e o ACT, que, assim como o Enem, selecionam estudantes para as universidades.
Para evitar a oposição local, o MEC promete um processo mais participativo, com debates em nível estadual e municipal, além de consulta a educadores. "As linhas gerais do currículo foram pensadas por um grupo de especialistas. Elas serão apresentadas nos próximos meses a gestores públicos, que poderão sugerir mudanças. No início de 2016, queremos abrir o documento para consulta pública", diz Maria Beatriz Luce, secretária de Educação Básica do MEC. Ela garante que currículo nacional não vai afetar a autonomia dos docentes. "A base comum vai dizer o que deve ser ensinado em cada ano escolar, mas não vamos dizer que metodologia o professor deverá seguir. Cada escola e rede de ensino terá liberdade para definir os meios para atingir os fins."


Fonte : VEJA - ABRIL

Especialistas apresentam cinco propostas para a educação brasileira

Em meio ao otimismo que envolveu o anúncio de Renato Janine Ribeiro como ministro da Educação, pensadores da área sugerem medidas para tirar o Brasil das últimas posições nos rankings de ensino


Especialistas apresentam cinco propostas para a educação brasileira Charles Guerra/Agencia RBS
Foto: Charles Guerra / Agencia RBS
O momento era meio baixo-astral: economia aos tropeços, corrupção em destaque, aumento de impostos e uma Esplanada sem brilho. Até que a Presidência emitiu uma nota de três linhas, no último dia 27, anunciando o quinto ministro da Educação em 14 meses de governo.
Um professor. Um professor de Ética. Sem filiação partidária.
A nomeação de Renato Janine Ribeiro, filósofo e professor da Universidade de São Paulo (USP), provocou otimismo entre analistas políticos e entusiasmo no meio acadêmico.
— Ele reúne as melhores condições de liderar um debate nacional. São raros os brasileiros que, além de capacidade intelectual, dispõem de tanta valentia para tratar de temas espinhosos — avalia o sociólogo Cesar Callegari, membro do Conselho Nacional de Educação e presidente do Instituto Brasileiro de Sociologia Aplicada.
Em um país cuja taxa de evasão escolar atingiu 24,3% em 2012, com os vizinhos do Chile (2,6%), do Uruguai (4,8%) e da Argentina (6,2%) nos deixando para trás, desafios monumentais aguardam o novo ministro. Apenas para citar outro dado, o Brasil ocupa o 55º lugar entre 65 países no ranking de habilidade para leitura do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). Em matemática, cai para 58º.
Janine concederá entrevistas como ministro a partir desta semana. Mas, na terça-feira passada, no programa Observatório da Imprensa, da TV Brasil, adiantou sua intenção de unir educação e cultura:
— Conhecer é tão prazeroso. Por que nós deixamos, ao longo dos séculos, que o conhecer se tornasse uma corveia, uma obrigação, e não um prazer?
Abaixo, pensadores e especialistas em educação sugerem cinco medidas para que o ministro possa virar o jogo.
1. Formação de Professores

Foto: Jean Pimentel
Digamos que um médico recém-formado queira ser cardiologista: você sabe, ele fará residência em um hospital certificado pelo governo — teoricamente uma instituição apta a lhe oferecer infraestrutura e orientação profissional qualificada — e, após alguns semestres, sairá de lá dominando a especialidade na prática.
— Agora troque o médico por um professor, a cardiologia pela Matemática, e o hospital por uma boa escola. Teremos a residência docente — propõe Mozart Neves Ramos, diretor do Instituto Ayrton Senna e professor da Universidade Federal de Pernambuco.
É muita teoria e pouca prática na formação dos professores, diz Mozart. Ele sugere que a residência docente ocupe o lugar do atual estágio curricular — disciplina do último semestre das faculdades de licenciatura e Pedagogia — e tenha o dobro da duração: um ano inteiro. Hoje, o estágio pode ser feito em qualquer escola. Na residência docente, como ocorre no aclamado sistema de ensino da Finlândia, não.
Escolas com bons laboratórios e professores de Química, por exemplo, seriam certificadas pelo Ministério da Educação para oferecerem residência em Química. Colégios cujo forte é a linguística, claro, receberiam aspirantes a lecionar Português e Literatura.
— As escolas vão lutar para atingir essa certificação, que lhe renderá benefícios do governo federal. E nós daríamos um salto na formação de professores, que hoje, na prática, não saem das faculdades sabendo ensinar — avalia Mozart.
2. Reforma do Ensino Médio

Foto: Guto Kuerten
— O Ensino Médio no Brasil é preconceituoso — define o psicólogo João Batista Oliveira, PhD em Educação e presidente do Instituto Alfa e Beto.
Tudo gira em torno do Enem, tudo mira a universidade, todos os alunos cursam as mesmas disciplinas, não há alternativas. Jovens propensos a trocar o estudo pelo trabalho dificilmente mudam de ideia, porque, nas palavras de João Batista, "não há nenhum estímulo à qualificação técnica, aos trabalhos manuais ou a qualquer atividade longe da faculdade."
— Raciocine comigo: 78% da força de trabalho brasileira (segundo o Pnad) não tem curso superior. Nos Estados Unidos, o percentual é de 50%, ou seja, também é bastante gente. Essas pessoas precisam ser preparadas e acolhidas pelo Ensino Médio e não desprezadas — analisa o psicólogo.
João Batista lembra que em países desenvolvidos, como Inglaterra, Alemanha, Itália, França e Suíça, o nível médio é profissionalizante — como já foi no Brasil há 40 anos. E, se o estudante quiser ingressar na universidade, prestará vestibular com provas relacionadas à área que estudou nos últimos anos do colégio.
O que não pode é o Enem ditar os rumos do Ensino Médio. É o rabo puxando o cachorro — protesta o especialista. — Em nome desse preconceito, de que a vida sem curso superior não tem salvação, perdemos a mão de obra qualificada no Brasil.
Mas e o badalado Pronatec?
— São cursos de 160 horas. Formação profissional é coisa séria. No Ensino Médio, levaria mais de ano.
3. Alfabetização no primeiro ano

Foto: Jean Pimentel
Está lá, no Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa: "Que todas as crianças estejam alfabetizadas até os oito anos de idade, ao final do 3º ano do Ensino Fundamental".
— Todo mundo sabe que essa alfabetização é na idade errada — protesta o sociólogo Simon Schwartzman, pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho em Sociedade do Rio de Janeiro.
Em qualquer país com ensino básico razoável, diz ele, a criança conclui a primeira série lendo e escrevendo. Ou, no mínimo, é essa a meta do governo.
O problema é que no Brasil, até os anos 1980, antes da universalização do Ensino Fundamental, quando não havia escolas públicas espalhadas nas regiões mais pobres, praticamente só a classe média tinha acesso ao colégio. Não eram filhos de analfabetos que ingressavam na escola — a maioria já tinha lápis e caneta em casa, convivia com pais letrados e chegava às aulas quase pronta.
— Qualquer método de alfabetização era suficiente — lembra a psicóloga Maria da Penha Azevedo, pesquisadora do Grupo de Estudos sobre Educação, Metodologia da Pesquisa e Ação. — Mas a clientela das escolas mudou, e o preparo dos professores não.
— Coordenei uma pesquisa com centenas de professores, e a imensa maioria aprendeu a alfabetizar na prática, e não nos cursos de magistério ou licenciatura — conta Simon Schwartzman.
Tanto ele quanto Maria da Penha defendem a meta de alfabetização aos seis anos — porque as crianças sentem-se incapazes e burras ao verem coleguinhas aprendendo enquanto elas fracassam — e uma verdadeira política que ensine professores a ensinar.
4. Currículo comum nas escolas

Foto: Cristiano Lameira
Nada de inventar a roda, basta seguir a lei. Há 19 anos a legislação manda que o governo federal elabore um currículo comum para as escolas do país inteiro, tanto as públicas quanto as privadas — essa resolução ganhou força no ano passado, com a aprovação do Plano Nacional de Educação. É bom que o MEC se agilize.
— Hoje, não há qualquer referência no país sobre o que os alunos devem aprender a cada ano escolar. Não há clareza sobre o que um estudante deve saber em cada série — explica a coordenadora do movimento Todos pela Educação, Alejandra Velasco.
Em que momento a criança deve dominar frações? E qual deve ser seu nível de interpretação de texto no quinto ano? A Constituição, vale lembrar, diz que toda criança tem direito a uma educação de qualidade.
— Mas todo o direito, para ser um direito, precisa ser enunciado. Quais são os direitos de uma criança no primeiro, no terceiro, no sexto ano? Os pais precisam saber. E que diretrizes definem uma "educação de qualidade"? — questiona o sociólogo Cesar Callegari, ex-secretário de Educação Básica do MEC e membro do Conselho Nacional de Educação.
Hoje, cada rede ou escola tem seus próprios critérios. Mas ano a ano seus alunos são submetidos a avaliações nacionais, como a Prova Brasil ou o Enem, que cobram de todos os mesmos conhecimentos. O Plano Nacional de Educação exige que o ministério defina o currículo até junho de 2016.
Será o primeiro passo para todos terem as mesmas oportunidades. Mas o prazo é curto e, até agora, ainda não há vimos documento inicial em discussão — alerta Alejandra Velasco.
5. Tecnologia no aprendizado

Foto: Charles Guerra
Termodinâmica pode ser chato. Mas imagine se o aluno desembarcasse na Inglaterra do século 19, no auge da Revolução Industrial, para entender de perto como funcionavam as locomotivas e máquinas a vapor, tudo isso aliado a uma perspectiva histórica, geográfica e cultural daquela época — o estudante veria como as pessoas trabalhavam, se divertiam e se vestiam, e ele mesmo queimaria carvão para produzir energia.
— Precisamos dessa nova linguagem. A sala de aula perdeu o monopólio da aprendizagem, que hoje tem força descomunal na internet. O Brasil tem plenas condições de desenvolver portais com gráficos supermodernos, videoaulas, interatividades e simulações tridimensionais para os alunos estudarem na hora em que quiserem, com quem quiserem e onde quiserem — prega Ronaldo Mota, ex-secretário de Inovação Tecnológica do Ministério da Ciência e Tecnologia, hoje reitor da Universidade Estácio de Sá.
Ronaldo lembra que nenhum outro país usa a tecnologia bancária melhor do que o Brasil. Existe, portanto, um potencial de sucesso em outras áreas. Para ele, o orçamento do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), que compra e distribui apostilas para escolas públicas, deveria ser redirecionado às inovações.
— O PNLD hoje é pensado como se os autores dos livros ou os gestores das escolas, todos de cabelos brancos como os meus, fossem os estudantes. É uma linguagem ultrapassada — afirma Ronaldo Mota. — Ou atualizamos nossa visão, ou fracassaremos. Não adianta os deputados brigarem pela escola de tempo integral se o colégio é desmotivador: vira uma dupla tortura.
'' Não adianta os deputados brigarem pela escola de tempo integral se o colégio é desmotivador: vira uma dupla tortura. ''
Realmente. Eu estudo em tempo integral e posso com toda a certeza comentar isso.  Não é aumentando o tempo que o estudante passa na instituição de ensino que irá aumentar seu conhecimento ou suas habilidades. Precisamos de inovações no âmbito do aprendizado, e não mais tempo no colégio.  #AcordaBrasil

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